Alternativos: Mimi wo Sumaseba
Ano: 1995
Diretor: Yoshifumi Kondou
Estúdio: Studio Ghibli
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 111 min
Gênero: Aventura / Fantasia / Romance
Um dos poucos animes do Studio Ghibli que não contou com Hayao Miyazaki ou Isao Takahata na direção, Whisper of the Heart (Mimi o Sumaseba) conta uma história bem intimista, que valoriza a arte, a vida e a beleza. Baseado no mangá de Aoi Hiragi, Whisper of the Heart foi roteirizado por Hayao Miyazaki e comandado pelo diretor estreante Yoshifumi Kondou. O fato de Yoshifumi Kondou ser um novato na direção não indica falta de experiência na produção de animes, já que ele era, à epoca (1995), um dos mais antigos e respeitados membros efetivos do Studio Ghibli, tendo atuado como chefe de animação em Grave of the Fireflies, além de ser o responsável pelo desenho de alguns personagens memoráveis, como Setsuko (Grave of the Fireflies) e Anne (Anne of Green Gables).
E Yoshifumi Kondou mostrou criatividade e coragem logo de cara, escolhendo como tema de abertura a canção "Take me Home, Country Road", de John Denver. A sensação de ouvir uma música inteiramente em inglês na abertura de um anime do Ghibli é bem estranha, mas não incomoda, principalmente se levarmos em conta a importância desta canção ao longo da história.
Falando em história, vamos ao enredo deste anime! Tsukishima Shizuku é uma garota alegre e de temperamento forte, que vive com os pais e a irmã mais velha num pequeno e bagunçado apartamento. Com o pai trabalhando na Biblioteca Municipal e a mãe estudando novamente, Shizuku e sua irmã Shiho precisam organizar o tempo para conciliarem os estudos e o trabalho com as tarefas caseiras, como lavar roupas e preparar o almoço. Shiho costuma pegar no pé de Shizuku, já que sua irmã mais nova costuma ser bem relapsa nos estudos ou na hora de realizar as tarefas de arrumação da casa, e pressiona os pais para que sejam um pouco mais duros com a filha caçula.
Mas seus pais preferem deixar que Shizuku encontre seu próprio ritmo, pois sabem que ela tem consciência de suas obrigações, deixando de realizá-las apenas quando fica completamente absorta em seu grande "hobby", a leitura. Shizuku é uma leitora compulsiva, devorando livros com um apetite assombroso, onde quer que esteja. É justamente esta sua compulsão pelos livros que a faz notar um fato interessante, nas fichas de empréstimo da biblioteca: alguma pessoa, de nome "Amasawa Seiji", havia lido exatamente os mesmos títulos que ela, não importando o quão raro ou incomum fosse o livro em questão. Logicamente, Shizuku fica curiosa para saber quem é Seiji, e sua busca por este misterioso leitor acaba colocando em seu caminho um enigmático e gordo gato cinza com uma orelha roxa, uma loja de antigüidades em um bairro elegante e, ainda, uma estátua representando um gato esbelto e impecavelmente vestido. Como tudo isto se encaixa na história? Assista e descubra! ~_^"
É pleonasmo falar que a qualidade de animação em uma obra do Ghibli é de cair o queixo. Como sempre, os artistas deste estúdio se superam a cada novo filme, retratando com perfeição os aspectos urbanos de uma metrópole, os movimentos fluidos dos personagens e as sutis mudanças de expressão dos mesmos. Whisper of the Heart foi um dos primeiros animes do Studio Ghibli a utilizar extensivamente a computação gráfica para aumentar o realismo das cenas, e o resultado alcançado é de tirar o chapéu!
O roteiro de Miyazaki mostra, com elegância, como a adolescência é uma fase complicada, com as primeiras e doloridas desilusões amorosas, a insegurança em relação ao futuro profissional, entre outras coisas. É de se admirar, ainda, a forma como a família é retratada em Whisper of the Heart, demonstrando o quanto a unidade familiar e o suporte dos pais são importantes para a formação emocional do adolescente.
A estréia de Yoshifumi Kondou havia agradado tanto a Miyazaki que este havia pensado em abandonar a direção de animes, após Mononoke Hime (1997), para dedicar-se apenas à produção dos mesmos, deixando a direção das futuras produções do Ghibli nas mãos de Kondou. Mas quis o destino que, em 21 de janeiro de 1998, aos 47 anos de idade, Yoshifumi Kondou viesse a falecer, vítima de um aneurisma. Este triste episódio causou uma enorme comoção entre os membros do Ghibli, especialmente Miyazaki e Takahata, que vinham acompanhando a evolução deste tímido e talentoso colega desde o início, quando Kondou ainda tinha 21 anos e trabalhava com eles no Nippon Animation Studio. A cerimônia fúnebre realizada em 23 de janeiro de 1998 contou com a presença de um arrasado Hayao Miyazaki, aos prantos, e um memorável e emocionante discurso proferido por Isao Takahata.Esta morte encerrou prematuramente uma brilhante carreira em ascensão. Yoshifumi Kondou demonstrou que tinha tudo para se tornar um diretor genial, nos moldes de Miyazaki e Takahata. Se não fosse o final bobinho e a trama edificante em excesso, Whisper of the Heart seria um anime perfeito. Ainda assim, a incrível interação entre os personagens e a história emocionante consertam qualquer pequeno defeito deste belo anime. A cena em que Shizuku canta "Country Road" em japonês, junto a uma inusitada trupe de músicos, é, em toda a sua simplicidade, um dos grandes momentos da animação em todos os tempos. Um toque de gênio deixado para a posteridade pelo saudoso Yoshifumi Kondou.
Marcelo Reis


Achei o "final casamenteiro" um pouco forçado para crianças daquela idade.
ResponderExcluirIh, rapaz, eu teria que ver o anime de novo pra reparar nisto - sinceramente, à época, não tive esta sensação, não.
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