OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 28/11/2014
Ano: 1941
Diretor: Wan Guchan / Wan Laiming
Estúdio: Xinhua Film Company
País: China
Episódios: 1
Duração: 73 min
Gênero: Aventura / Fantasia / Infantil
"Jornada ao Oeste", de Wu Cheng'en, é um dos Quatro Grandes Clássicos da literatura chinesa, ao lado de "A Margem da Água", de Shi Nai'An; "Romance dos Três Reinos", de Luo Guanzhong; e "O Sonho da Câmara Vermelha", de Cao Xueqin. Estes livros são uma leitura quase obrigatória para os chineses há séculos, e suas histórias deram origem a várias obras no teatro, cinema, música e outras artes. No mundo ocidental, "Jornada ao Oeste" é geralmente lembrado como a obra que serviu de inspiração a Akira Toriyama ao escrever seu super sucesso "Dragon Ball", mas também deu origem à série "Saiyuki" e suas continuações, que conta esta história com uma roupagem mais modernosa. Vale lembrar também dos quatro ótimos filmes dirigidos por Ho Meng-Hua na década de 60 para o estúdio Shaw Brothers: "Monkey Goes West", "Princess Iron Fan", "Cave of the Silken Web" e "The Land of Many Perfumes".
Em "Jornada ao Oeste", o monge Tang Xuanzang deve fazer uma peregrinação à Índia, para coletar as escrituras sagradas do Budismo. Durante este jornada longa e perigosa, o monge contará com a ajuda e proteção de Sun Wukong (o poderoso e inteligente Rei Macaco), Zhu Bajie (meio homem, meio porco, preguiçoso, glutão e meio tarado) e Sha Wujing (ajudante leal, bom de briga, gago e meio burro). Entre as literalmente centenas de aventuras vivenciadas pelo quarteto, "Princess Iron Fan" sempre foi uma das mais cultuadas e famosas. Além do filme supracitado dirigido por Ho Meng-Hua, ainda houve um filme mudo produzido em 1927, e uma animação lançada em 1941 - esta resenha, logicamente, analisa a versão animada..jpg)
"Princess Iron Fan" é considerado o 1º longa-metragem de animação chinês, e foi dirigido pelo irmãos gêmeos Wan Guchan e Wan Laiming, dois grandes pioneiros da indústria de animação chinesa. Produzido durante o difícil período da ocupação japonesa em Xangai nas décadas de 30 e 40, "Princess Iron Fan" levou três anos para ser finalizado, e apresenta uma interessante mistura de características tipicamente chinesas com outras bem ocidentais. A trilha sonora, por exemplo, possui algumas passagens com instrumentos e escalas musicais orientais, mas várias passagens parecem saídas de uma animação de Max Fleischer. E se alguns cenários parecem pinturas em aquarela - algo que se tornaria marca registrada em futuras animações dos irmãos Wan e também de Te Wei - outras possuem um aspecto quase fotográfico.Deixando a parte técnica temporariamente de lado, "Princess Iron Fan" narra um episódio vivido pelo quatro peregrinos ao tentarem atravessar a Montanha Ardente. Sem entenderem por que razão faz tanto calor na região, o monge Tang e seus seguidores são informados que um incêndio eterno se espalha por quilômetros em direção ao oeste. Por esta razão, a grama não cresce na região, todas as estações do ano são abrasadoras, e é impossível atravessar a montanha.
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Os peregrinos ficam sabendo ainda que a Princesa Leque-de-Ferro possui um poderoso leque mágico de folha-de-palmeira. Se for agitado uma vez, o fogo é apagado; se agitado pela segunda vez, começa a soprar um forte vento; e se agitado uma terceira vez, uma forte chuva começa a cair. Por acreditar ser esta solução para os seus problemas, o monge Tang ordena aos seus discípulos que peçam emprestado o leque à Princesa. Eles não poderiam esperar que, em função de algumas desavenças antigas, ela não estará muito disposta a ajudar, e começa um verdadeiro jogo de gato-e-rato para ver quem sairá vencedor ao final..jpg)
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Desde o início, dá para perceber como os irmãos Wan e sua equipe dominam bem as técnicas de animação, ainda que alguns momentos passem uma forte sensação de experimentalismo, como se quisessem aproveitar o longa-metragem para testarem o máximo possível de técnicas. A movimentação dos personagens, apesar de fluida, possui aquela sensação de falsidade típica de animações daquele período: ninguém parece ter peso, aparentam flutuar no ambiente, com movimentos engraçados e meio "líquidos". Buscando cortar o máximo de custos em função do período de guerra em que se encontravam, foi utilizada extensivamente a rotoscopia, técnica muito comum nas primeiras produções da Disney, na qual os movimentos de pessoas reais eram gravados em película, e os desenhos eram feitos depois por cima destas imagens. Se é verdade que a animação fica bem fluida e realista, isto também pode gerar uma estranheza tremenda nas expressões faciais, como ocorre com frequência em "Princess Iron Fan" - em alguns momentos, dá a impressão de que alguns personagens estão prestes a ter um derrame.Mas se estas estranhezas são aceitáveis, infelizmente a narrativa é muito errática, conseguindo deixar uma animação de apenas 73min extremamente monótona. Algumas sequências se alongam muito além do necessário, há muitos diálogos expositivos e repetitivos, cortes de cena estranhos, movimentos de câmera meio "bêbados". A parte sonora também apresenta problemas. Não posso dizer se esta questão está ligada ao mau estado de conservação da cópia, mas a trilha sonora é muito mais alta que os diálogos, e ainda tem o agravante de não parar em quase nenhum momento - assistir a uma animação com a música berrando nos ouvidos do início ao fim chega a ser estressante.
Quem leu o livro sabe que as lutas são grandiloquentes, com direito a montanhas que se abrem, oceanos que enlouquecem e assim por diante. Isto não acontece aqui: temos apenas briguinhas bobas e simples, como se fossem lutas ensaiadas para uma peça de escola. Mas como a animação é voltada para moldar o caráter infantil (não desanimar frente aos obstáculos, trabalhar juntos pela vitória), talvez a abordagem mais simplista dos embates tenha sido correta, enfatizando a cooperação, não o heroísmo solitário.
Ah, e quase me esqueço de comentar! Acreditem se quiser, mas mesmo sendo uma animação mais infantil produzida na década de 30, há uma cena de semi-nudez feminina em meio a uma ventania. Ousadia é isto aí!
Eu adoraria poder dizer que "Princess Iron Fan" é uma excelente obra, mas infelizmente eu estaria mentindo. Mas mesmo com todos os problemas narrativos, vale pela curiosidade histórica e para ver o quanto os irmãos Wan evoluíram como animadores e narradores com o passar dos anos - assistam a "Uproar in Heaven" para tirarem a prova.
Marcelo Reis
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